sábado, 17 de março de 2012

Resumo biográfico da pixacão



I - INTRODUÇÃO

- A Pixação, Pixação como preferido pela linguagem nas ruas ou Pixo é uma técnica de comunicação visual urbana desenvolvida por jovens adultos que marcam as cidades com frases de protesto ou insulto, assinaturas pessoais, declarações de amor ou como forma de demarcação de territórios entre grupos, às vezes gangues rivais. Por essa razão difere-se do grafite, uma outra forma de inscrição ou desenho, tida no Brasil como artística, embora em línguas como a língua inglesa, o termo graffiti seja unificado e sirva para ambas as formas de expressão.



O ato de escrever ou rabiscar sobre muros, fachadas de edificações, asfalto de ruas ou monumentos, usando tinta em spray aerossol, dificilmente removível, estêncil ou mesmo rolo de tinta, faz da pichação um signo a integrar arbitrariamente a linguagem urbana, além de danificar economicamente os imóveis públicos e privados atingidos pela poluição visual, trazem desarmonia estética urbana e ao paisagismo.

Juridicamente pichar, grafitar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano é crime ambiental nos termos do art. 65, da Lei 9.605/98, com pena de detenção de 3 meses a um ano, e multa. Se o ato for realizado em monumento ou patrimônio tombado por seu valor artístico, arqueológico ou histórico, a pena passa a ser de 6 meses a um ano, e multa (§ único). Porém, a mera existência de legislação punitiva não é suficiente para inibir estes atos, devendo existir do Poder Público, vontade política de inibir a prática delituosa. Cabe ao Município exercer a sua autoridade administrativa e garantir o desenvolvimento urbano, garantindo ainda o bem estar de seus habitantes (art. 182, Constituição Federal), sob pena de seus agentes responderem pelo crime ambiental de responsabilidade por deixarem de adotar as providências que lhes compete na tutela ambiental (art. 68, Lei 9.605/98, Crimes Ambientais). Além disso, todos os cidadãos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225, CF), no que se inclui o meio ambiente urbano com suas características harmônicas e estéticas.

No entanto, é importante ressaltar que outras linguagens “enfeitam” diariamente o espaço urbano interagindo com o público. Dentre elas, a mais expressiva é a publicidade, com uma gritante divergência: a publicidade possui legalidade autorizada, mediante pagamento, enquanto que, a pichação é institucionalmente marginalizada, e sua realização está sujeita à pena e/ou ao pagamento de multa.



O termo marginalidade pode se referir a questões econômicas, étnicas, raciais, e a outras formas de distinção social e vista sob diversos aspectos.
No âmbito jurídico, pela ilegalidade do seu ato; no aspecto físico, por sua aparência desleixada; pela violência física, alvo dos moradores indignados com seus atos ou da repressão policial; no sentido moral e cultural visto como criminoso; na exclusão social e familiar
(usam luvas cirúrgicas que garantem as mãos limpas de tinta e não serem reconhecidos),
além do caráter violento da própria atividade de pichação,
que inclui rixas entre “crews” ou bondes rivais.

Acredita-se, porém, que o pichador não tem como objetivo poluir visualmente a cidade quando marca os muros, e, sim, afirmar sua presença em uma disputa privada por visibilidade de uma tribo urbana.
Dessa forma, o público constantemente é alvo de bombardeiros visuais, cromáticos, gráficos, verbais, e, também, artísticos que se apropriam de táticas particulares de técnicas de comunicação dialogando com o passante pós-moderno.



II - CONTEXTO HISTÓRICO-SOCIAL:


Já na Antiguidade é possível encontrar elementos de pichação. A erupção do vulcão Vesúvio preservou inscritos nos muros da cidade de Pompéia, que continham desde xingamentos até propaganda política e poesias.

Na Idade Média, padres pichavam os muros de conventos rivais no intuito de expor sua ideologia, criticar doutrinas contrárias às suas ou mesmo difamar governantes.
Com a popularização do aerossol, após a Segunda Guerra Mundial, a pichação ganhou mais agilidade e mobilidade. Na revolta estudantil de 1968, em Paris, o spray foi usado como forma de protesto contra as instituições universitárias e manifestação pela liberdade de expressão.

Na passagem dos anos 60 para os anos 70, surgiram no ambiente urbano de Nova York, cidade dos Estados Unidos, o Movimento Cultural Hip-Hop que objetivava aproximar o pichador ao Movimento, que encontrava no Grafite a expressão visual socialmente aceita como forma de expressão artística contemporânea, respeitada e aceita pelo Poder Público. A aproximação do jovem que pratica o Piche para o Grafite faz parte do que os integrantes do movimento Hip-Hop denominam de violência direcionada, numa base simples de princípios que incluem a paz, o respeito ao próximo e a autovalorização. Com o grafite são ensinadas noções de artes plásticas e muralismo que favorecem a inserção no mercado de trabalho. Já a pichação é considerada essencialmente transgressiva, predatória, visualmente agressiva desprovida de valor artístico ou comunicativo.


Em geral, a convivência entre grafiteiros e pichadores é pacífica. Muitos grafiteiros foram pichadores no passado, e os pichadores não interferem sobre paredes grafitadas.
No Brasil, essa distinção é vista com rivalidade existindo certa competição entre os dois grupos, que consiste no atropelo da obra alheia.


A pichação é tema de estudo de várias tendências.
Alguns estudiosos analisam os pichadores pela óptica de caráter psicológico e comportamental, onde o sentimento de medo, timidez, insegurança, anonimato e dissimulação (o pichador passa despercebido ao não ostentar sinais de sua identidade clandestina e cria pseudo-identidades integradas em um processo de representação do eu e a sociedade) refletem num código linguístico próprio, acessível somente para iniciados; à sua presença, totalitária e constantemente impregnada ao mobiliário urbano; à sua reprodução, contínua e prolongada de modo misterioso durante a madrugada, porém concreta e real à luz do dia seguinte.
O caráter furtivo e noturno da pichação é um grande indício para sua marginalidade. A “sociedade conservadora” se guarda contra os boêmios, ladrões, sem tetos, menores abandonados, entre outros andarilhos indesejáveis da noite.
É importante ressaltar o caráter mutante do grafite e da pichação, como obras nômades a serem repetidas nos itinerários percorridos, sempre com sutis e inevitáveis diferenças nas quais o inacabado dá lugar ao diálogo com o entorno citadino.
O epicentro das atividades de pichação é o centro da cidade. Para ele rumam, dos mais diversos bairros, indivíduos que têm por praxe inscrever seus deslocamentos pela cidade com suas marcas, adesivos, tags, grafites, piches, e, nesses movimentos, tornam visível suas regiões de apropriação. Fazem, com isso, uma ressignificação do modo de habitar a cidade e marcam, no percorrer urbano, um itinerário em que se reconhecem. Essa forma de viver a cidade é característica de um sujeito errante.
É próprio do errante: exprimir uma forte personalidade e só tomar sentido no seio de um grupo fortemente soldado. (...) Na verdade, tudo isso é um modo de escapar da solidão gregária própria da organização racional e mecânica da vida social moderna. (MAFFESOLI, 1997:70).
O bairro deixa então de ser o local de atuação, ao contrário das gangues urbanas onde a defesa de um território é prerrogativa básica. Nos bondes, o bairro só serve como identificação geográfica do grupo, visto que marcam toda a cidade, invadindo áreas de outros grupos em uma disputa hierárquica. A forma de luta difere da violência física das gangues urbanas, pois, nos grupos do piche e do grafite, ela se reduz a uma violência simbólica e provocativa. A referência ao bairro continua, mas, dessa vez, marcada ao lado da assinatura.

III - CARACTERISTICAS

De início, a Pichação reduzia-se a um ato de protesto ou manifestações em geral, atualmente, o Movimento tornou-se um ato de lazer, desafio e competição.

A organização promove encontros (também chamados por pichadores de "reús", abreviação de "reunião") que acontecem regularmente em diversos pontos das cidades, alguns deles reunindo centenas de pichadores numa mesma noite.

( Foto da Segunda Mega Reunião Pixadores de Fortaleza )

A impunidade, a "fama" e a adrenalina de subir em prédios de maneira arriscada, são os principais fatores de motivação para que o ato seja cada vez mais praticado. Os pichadores organizam-se em grupos, que são identificados cada um por uma sigla. Todo final de ano, pichadores reúnem-se e distribuem premiações entre si, para as melhores siglas, ou para aqueles que se destacaram durante o ano, ou por pichar em lugares altos, ou simplesmente por ter seu piche em vários pontos da cidade.

Costumam ser enquadradas nessa categoria as inscrições repetitivas, bastante simplificadas e de execução rápida, basicamente símbolos ou caracteres um tanto hieroglíficos, monocromático ou colorido feita na parede, com a intencionalidade de marcar a cidade com sua assinatura, que pode ou não ser acompanhada de algum desenho e cores.

O grupo de pichadores possui no bairro um referencial de territorialidade que acompanha a inscrição na parede. A formação do “crew” ''Siglas'' é então precedida de uma proximidade geográfica entre os integrantes. Essa relação com o bairro acompanha a pichação como um dado complementar e manifesta uma afirmação de pertencimento a determinada região da cidade

Para identificar uma pichação coloca-se ao lado dela uma indicação pessoal ou do grupo que a realizou. Uma pichação é, portanto, rodeada de comentários que indicam sua procedência, as pessoas que a realizaram e se foram convidadas ou participam do grupo. No caso de pichadores que reaparecem ou de marcas retomadas depois de terem sido abandonadas, é comum usar-se a expressão "estamos de volta.”



A pichação tornou-se hábito em diversas cidades e estados brasileiros. Ceará, Goiás, Paraná, Mato Grosso, Minas Gerais, Distrito Federal, Espírito Santo, Porto Alegre e Pernambuco são estados cujas capitais possuem um expressivo número de pichadores.

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